Translate

domingo, 15 de janeiro de 2017

Moradores do Leste de Minas estão aterrorizados com os casos de febre amarela

Ladainha – Ontem, noite de sábado, foi celebrada a missa de sétimo em intenção da alma de Gilson Rodrigues Lopes, de 38 anos, nascido e criado no distrito de Concórdia do Mucuri, a 20 quilômetros da sede do município de Ladainha, no Vale do Mucuri. Houve preces e reza do terço. Na declaração de óbito do homem, querido pela família e amigos, está escrito que a causa é “indeterminada, aguardando exames”, mas para os residentes na comunidade rural, cercada de mata fechada, o motivo não é outro: febre amarela silvestre. A doença que aterroriza a Região Leste de Minas já provocou quatro óbitos no local, o total de 16 em Lapinha e ao menos 38 no estado. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), a vacinação contra a doença continua hoje nas cidades que fazem parte da área de risco.

Na casa simples, com muitas plantas na janela e localizada a dois quilômetros do Centro do distrito, por estrada de terra, Maria dos Anjos Rodrigues Lopes, de 58, não se cansa de chorar a morte de Gilson, que ela considerava muito mais do que um filho. “Era meu companheiro de todas as horas, um amigo, um rapaz bom que gostava de ficar em casa, comigo, e sempre muito trabalhador. Não era de confusão”, diz Maria dos Anjos, mãe de seis filhos e agora amparada pelas filhas Rêuzia, Dilza e Adélia. Ao lado da casa, na comunidade do Açude, está em silêncio a marcenaria onde ele trabalhava com um dos irmãos, e, nos fundos da casa, a densa mata onde ele costumava arejar a cabeça ou ouvir o canto dos pássaros – os canários chapinhas voam em bandos neste canto do Vale do Mucuri.

Gilson não era vacinado contra a febre amarela, ao contrário dos irmãos e da mãe. “É preciso vacinar”, conta Maria dos Anjos, quase sem voz, enquanto examina a foto do filho na carteira de identidade. Sentada no sofá vermelho da sala, ela diz que os móveis foram retirados do lugar, na manhã de ontem, para que a equipe do fumacê fizesse seu serviço, com a intenção de matar os “milhões” de pernilongos que infestam a comunidade e, claro, os mosquitos Haemagogus, transmissores do vírus da febre amarela silvestre, mal de alta letalidade e atual inimigo público número um. Segundo os especialistas, os insetos são comuns em matas e vegetação existentes na beira dos rios e, quando picam um macaco doente, se tornam capazes de transmitir o vírus ao homem e a outros macacos.

As irmãs de Gilson, que era solteiro, também não escondem as lágrimas. “Nós nunca tínhamos ouvido falar em febre amarela silvestre por aqui. Nem nós, nem os mais antigos moradores. Também não imaginávamos perder um irmão tão querido dessa forma”, lamenta Adélia Rodrigues Almeida, de 40. Diante de situação tão grave, ela diz que as autoridades precisam tomar todas as providências para que ninguém mais precise passar pelo sofrimento que a família vive neste começo de ano.
Fonte; EM-Estado de Minas

Nenhum comentário:

Postar um comentário